Tuesday 19 January 2016

a cabine detestável que é preciso amputar





mas dizer que estou fazendo malabarismos já seria uma bela suavização da coisa. são dias e dias lutando bravamente para conseguir estar presente e me levantar e pegar meus dois ônibus para ver minhas muitas aulas e pegar meus três ônibus e voltar para casa, entre trânsitos, fobia e confusão. já abandonei algumas coisas pelo caminho, como sempre abandono algumas coisas pelo caminho, e tive conversas constrangedoramente sinceras com professores que, oi, mandam a gente fazer terapia, porque, né, na aula de didática ninguém ensinou a lidar com aluna surtada chorando e dizendo quero-morrê.

ao fim do dia, salvaram-se todos, e eu fui ler uma notícia onde se falava sobre a cabine destacável de um avião que se auto-fragmenta para salvar as pessoas em caso de acidente quando me peguei lendo cabine detestável - o que deve dizer muito sobre o meu Atual Estado Mental.

de uma forma ou de outra, fica também a descoberta de uma boa metáfora, pois TALVEZ SEJA ESSA a hora em que eu me divido em vários pedaços para o incêndio de um lado não comprometer todos os outros. na pior das hipóteses, vai-se embora uma parte incendiada e as outras se reagrupam, tentando formar um pseudo-avião amputado que ao menos tem condições de voltar - não-tão-são mas salvo - para casa.




Thursday 31 December 2015

adeus, estabilidade




tudo esquisito. suspiro, acordo, uma dor tremenda na perna, mosquitos, os cachorros não param de latir. meu nariz arde até chegar a nuca. não sei mais o que vim fazer aqui. me pergunto obsessivamente, enquanto a presença do meu pai se faz cada vez mais sólida pela casa inteira. vejo os quadros, as fotos, vejo a forma como minha tia sorri e fala e sua forma de pensar e lidar com o mundo, e enxergo ele em tudo. não sei mais o que vim fazer aqui.

lá, a casa vazia. por uma semana, pela primeira vez em - meu deus - tantos anos! a casa vazia, sem ele nem cachorro nem presença, a casa fantasmática que me assombra aqui, a quilômetros de distância. penso nos cômodos vazios, na luz que não acende quando escurece, nas janelas fechadas, nos objetos que, quando voltarmos, estarão nos mesmos lugares onde os deixamos. como se estivesse parada no tempo. ironicamente, estou atravessando de um ano para o outro aqui, tão longe, e a casa está lá, da mesma forma que estava em 2015, entrando em 2016, congelada no tempo. e eu vou chegar, mudada, como alguém muda ao longo de uma semana, como alguém perde algumas células mortas ao longo de seus 7 banhos, cresce alguns milímetros de cabelo, fica um pouco mais ou um pouco menos bronzeada, um pouco mais ou um pouco menos gorda, compra uma blusa nova, usa um novo esmalte, eu vou chegar, mudada, pós-travessia, e a casa vai estar, ainda, da mesma forma como foi deixada em 2015.

eu não sei dizer como isso é assustador - mas é. é assustador lá a casa vazia e aqui a presença esmagadora, é assustador eu aqui atravessando sabe deus o quê e chegando sabe deus aonde. um apego terrível, a ausência como um imenso piano sobre os dias. sinto que esse é o último réveillon, mas não sei dizer em que sentido. sinto que o próximo será outro, será em outro lugar, será em outra década, em outra dimensão, em outro universo, o meu próximo réveillon não vai ser meu, porque eu agora troco a minha pele como as cobras (nunca soube que doía) e sinto que algo se esvai, algo vai embora - eu deixo ir, é preciso. vim perdendo a minha terceira perna, essa perda horrível da terceira perna, e agora (adeus, estabilidade) só me resta aprender a andar. quedas e roxos que venham, vou fraturar quantos joelhos for preciso, antes o risco do que esse cheiro de mofo pousado sobre quem está sentado há muito tempo.

Wednesday 30 December 2015

o ponto em que não há retorno



essa semana está durando um mês. penso na inutilidade de tudo (dormir, acordar, comer, dormir, acordar, comer, sair para andar pelas únicas 3 ruas da cidade que já decorei e da qual já estou cansada). me derramo sobre a rede, tento ler e não consigo, tento escrever e não consigo (meu deus, o que eu vim fazer aqui?). penso no que eu estaria fazendo se estivesse em casa e chego à esquisita conclusão de que não estaria fazendo nada. cama, sofá, televisões e computadores e celular, um almoço num shopping, reclamações sobre o calor insaciável da cidade.

é curioso que aqui eu me sinta desperdiçando o tempo se é exatamente isso o que mais faço em casa. penso: nunca mais vou recuperar os dias que perdi aqui. penso: estou perdendo minha vida. penso: não posso me dar a esse luxo. mas me dou todos os dias, 25 anos de muito tempo jogado fora enquanto acumulo pilhas e mais pilhas de expectativas fragmentadas, atropeladas, gaguejadas sem parar. até quando, mulher? (os 26 já tocam a campainha.)

também curiosamente, aqui me sinto plena como há tempos não me sentia. aflita, irritada, melancólica, saudosista, entediada, mas estranhamente plena. como se comesse exatamente o que preciso comer (nunca estou com fome, mas nunca estou enjoada), como se dormisse exatamente o que preciso dormir (nunca estou com sono, mas nunca durmo demais), como se meu corpo estivesse na temperatura certa (nunca estou com calor nem com frio). uma plenitude esquisita, que nada tem a ver com descanso - já que ainda, mesmo essa sendo minha última semana de férias, continuo sentindo que preciso descansar, continuo sentindo que algo em mim fica ainda mais esgotado e desgastado e exausto aqui, continuo sentindo que estou sendo levada ao meu limite, o dedo enfiado no buraco da bala, até chegar ao ponto em que (beijos, kafka) não haverá mais retorno. e sim, esse é o ponto que deve ser alcançado, eu sempre soube, eu sempre fingi não precisar saber.

Thursday 21 March 2013

ninguém pra contar



...que a vida anda mesmo ruim. que eu tô achando que o amor vai do nada a lugar nenhum. que eu jogo em outras cidades minhas esperanças pra ver se assim vai que. algum sentido, talvez. contar que faz dias que estou na cama, assistindo aos programas que a televisão me dá (às vezes friends, às vezes um filme qualquer), comendo besteira atrás de besteira. contar que faz séculos que não vou à academia e que deveria ter marcado depilação pra essa semana porque a minha sobrancelha tá chegando no frida kahlo level, mas não marquei. também não marquei os 2 médicos, o exame, o cinema, a exposição. também não comprei o caderno, não fui à praia, não li os livros, não terminei os trabalhos.

contar que agora, sabe deus por que, eu guardo um choro misterioso na garganta e já não é só o amor o problema, mas o mundo inteiro. e chorar no colo de alguém já não adiantaria nada porque o colo também me parece um problema a mais. fica, então, essa vontade enlatada de sair gritando "estou infeliz, me liberta daqui", tipo aquela peça que não lembro o nome, e o meu suspiro final de resignação, sabendo mesmo que não há libertação possível, como quem diz: tudo bem, vai passar. um dia desses, passa. dia desses, tudo passa.








Sunday 10 March 2013

das delícias pós-stress



depois de vários e vários dias de provas trabalhos seminários entregas ai meu deus não vai dar tempo tudo engarrafado preciso chegar às 7h socorro que ônibus lotado e tudo mais, finalmente.......... respirar! ainda me falta uma última prova (e diga-se de passagem, a pior do período inteiro), mas: o alívio já se instalou bonitinho e não há nada que se possa fazer. verdade seja dita, estou me sentindo de férias sem estar, e isso eu já não sei se é terrível ou muito bom.

seja como for, nessas semanas em que o estudo governou as minhas 24 horas diárias, resolvi adotar um método como motivação: baixei um filme por dia. um filme por cada dia que eu não podia fazer nada além de decorar declinações de latim e tentar entender mattoso. e o resultado foi: 11 filmes me esperando para serem vistos.

- a arte de amar
- ele não está tão a fim de você
- 120 dias de Sodoma
- amadeus
- maridos e esposas
- as sessões
- e viveram felizes para sempre
- tabu
- calígula
- tempos de lobo
- me excita, porra!

isso sem falar em alguns episódios de revenge (pra eu me atualizar) e o pilot de girls, que todo mundo anda falando tanto e eu resolvi baixar pra conhecer. esse último filme da lista eu já vi ontem e coloquei minhas impressões aqui: cinespasmo.blogspot.com (que é também onde eu devo colocar as resenhas de todos os outros que assistir - ou, ao menos, os que eu sentir que tenho algo a dizer sobre).

enquanto isso, na minha querida praia deserta de todo sábado:





















































































uma homenagem à poesia que vem e que vai... e se reescreve a cada ida.
e não se permite governar.


[graças a deus]



Friday 22 February 2013

coisas que só uma sexta-feira pode fazer por você



hoje gastei umas boas horas da minha vida fazendo uma das coisas que gosto mais: vagar por livrarias. acabei afundada numa poltrona, com livros sobre dadaísmo, schiele e francis bacon no colo, feito uma criancinha explorando as possibilidades dos brinquedos desconhecidos. confesso que de schiele e bacon eu já era mesmo fã, mas de dadaísmo conhecia pouquíssimo (tirando, obviamente, o famoso urinol do duchamp). resultado: me encantei.


 
 
 "Da-Dandy" (1919), de Hannah Höck



 
"O Rouxinol Chinês" (1920), de Max Ernst



frase de marcel duchamp.




[de resto: uma inspiração literária nascida de um cego adorável que encontrei no ônibus, uma bolsa linda comprada pela metade do preço e, pra fechar minha noite de sexta, caetano e novos baianos! coisa boa.]



Thursday 21 February 2013

o amor e outros desastres



pois é, vez em quando acontece. a gente dá o que os outros não sabem como receber. a gente entrega (e se entrega) e o outro ali, com braço frágil demais pra carregar. às vezes o tudo-que-se-precisa-dizer fica preso na tentativa e a gente termina assim, sem palavra nenhuma nas mãos. com o silêncio ali entorpecendo todos os meus últimos meses, o que eu penso é: "eu inventei você". e quantos mais? a palavra que você me dá em pensamento não é sua, é minha. 

então que é isso mesmo, você me cai do pedestal, você me mostra sua nudez terrivelmente frustrante (ou pior: você coloca nela o pior dos figurinos só mesmo pra que não me sobre nenhuma brecha possível), e eu te olho, enxergando pela primeira vez um homem qualquer de meia idade, gestos confusos, sorriso agradável, mas nada que vá muito além. eu me desperdiço inteira e, no fim das contas, percebo mesmo que não foi nada. outras e outras vezes, vou me preparar pra alguém e algumas muitas vezes vou ser mesmo desperdiçada, faz parte. enquanto isso: cervejas, iscas de frango, cachaça e batata frita. vou continuar (r)indo, apesar de. me recuso a pedir desculpas pelo peito aberto. 























Monday 18 February 2013

sobre os porquês:




não sei, não sei. sinto a necessidade de um espaço meu pra dizer os não-ditos de cada dia. espaço pros amores sem fim, pras pequenas meditações, os gritos embolotados na garganta do cotidiano. meu Entrelinhas funciona já há alguns anos, mas é espaço puro de prosa/poesia, nada que não seja escrita entre lá. também o Cinespasmo tem uma função específica. e o resto todo que me cerca (e me invade) acaba é não cabendo em lugar nenhum...

aqui, um pouco de tudo. aqui, palavra solta, trecho de livro, cena de filme, dança, música e uns alguns poréns. minhas reclamações desgovernadas, meu desequilíbrio, talvez uma tentativa de.

uma tentativa de algo que eu ainda não sei o que é. mas que vai indo... entre uns cafés e uns fatos, uns cafés com fatos, com cigarrinho do lado e música de fundo porque sim. é assim que a vida passa.